Entre os
galhos do velho abricoeiro
- árvore-templo no estendal praieiro
agita-se o tié, irritadiço
poeta das virides capoeiras
dramatizando em sons sua côr berrante
feita de sangue e fogo crepitante!...
No estalar de sua voz tudo palpita;
na expressão de sua côr tudo se agita
e nessa sedução, treme a folhagem
o musgo treme e na serapilheira
pia o inhambi chamando a companheira
para a festa de amor na tarde quieta
sublime inspiração desse poeta
com sangue na roupagem
e fogo na linguagem!...
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Vendo-o
tenho nos olhos o delírio
de um coração pulsando
e acodem-me lembranças, como um círio
uma alcova aclarando!...
Êsse tié que aqui tão perto canta,
com brazas na garganta,
na árvore alquebrada e envelhecida,
vive o poema duma ansiedade
ressaltando, em página esquecida,
uma história qualquer
resumida num lindo mal-me-quer
tingido com as côres da alvorada
musicado na doce clarinada
que vêm do coração ou vêm da altura,
um lindo mal-me-quer, uma ternura
que o tempo desfolhou
e o perfume deixou!...
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