Quanto
invejo tua sorte, bom praiano,
no teu sítio, na praia muito além,
na santa paz de um coração humano
a palpitar sem ódio de ninguém...
A tua grande ambição
é a calmaria:
a pesca no alto mar ou no costão,
e ouvir, à tarde quando o inhambu pia
dar um tiro gostoso no grotão...
Bem pertinho se
estende tua esperança
o verde mandiocal tremendo à brisa
que acaricía e que também balança
na cerca de jissara uma camisa...
O teu grande consolo
é a filharada
brincando em derredor ao cajueiro
ou rolando, na noite enluarada,
pele areia limpinha do terreiro...
A tua estimação
essa é o "Teimoso"
o "Fiel" a latir sempre com fome
e aquele magricela do "Tinhoso"
que na sexta-feira vira lobishome...
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O teu maior prazer tem
o destino
de percorrer toda a extensão praiana
e soltar rojão quando o "Divino"
entra festivo pela tua choupana...
No rancho do jundu o teu
"Embrulho"
- como dizes sorrindo, a tua canoa -
Essa que compartilha em teu orgulho
quando traz em seu bojo uma caçoa...
E refletindo isso bom
praiano,
sinto inveja de ti, na tua humildade,
porque bem sei que o coração humano
só bem humilde tem felicidade...
E invejo tua sorte, bom
caiçara,
essa tua expressão de bem estar
quando está em tua casa ou na "coivara"
ou pondo o "picaré" no lagamar...
Porquê, embora assim
tão desprezado
sem contar com ninguém, senão os teus
tens a fé que te faz um conformado
na vontade santíssima de Deus...
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