O mar bravio cresce nos meus olhos e se esparrama
pela praia, espantando as batuyras que catavam bichinhos no
chão. As ondas quebram com grande fragor imitando carrilhões
cantando uma balada cheia de melancolia.
Nessa hora, o Poente se tinge do escarlate vivo
- a côr da rebeldia - mesclando com o ouro da pacificação
e da vida. E esse constraste profundo forma a paizagem de magnificiência,
que inspira os poétas, que desperta amor nos corações,
fazendo vibrar o sentimental que existe em nosso ser. O por
do sol!
E, junto ao mar, fico extatico ante tamanha beleza!
Nada ha, que se lhe compare em explendor. As ondas vêem
molhar os meus pés, sem que dê por isso. As gaivotas
aos bandos, passam como caravanas no deserto azul do ceu. Tudo
é belo! Tudo é grandioso!
As côres do Poente vão esmaecendo,
nessa hora que se antecede ao anoitecer. O grande sino da Matriz
de Sant'Ana toca a Ave Maria, enchendo o ar com sua voz, cheia
de promessas - "Salve Deus nas alturas e paz na terra aos
homens de boa vontade". Sinto-me então, diminuto
ante essas maravilhas do Creador. Sinto os olhos marejar, ao
presenciar, recortado contra as luzes crepusculares, a silhueta
altiva do secular Convento. Esse mesmo Convento pelo qual meus
ancestrais guardavam uma veneração religiosa.
Penso então nos indios adorando a terna
e bondosa figura de José de Anchieta, esse que foi forte
e denodado, levando um sorriso nos labios, uma Cruz nas mãos
e a humanidade na alma, em confronto com a selvajeria do aborigene,
contra suas flechas e contra o seu espirito guerreiro. Travava-se
a luta sem treguas entre a Cruz de Cristo e a alma cruel do
indio. Submetiam-se os catequizadores a todos os sofrimentos
e privações em meio à selva virgem convertendo
incultas almas em humildes servos de Deus. E vencia a Cruz,
o Simbolo da Fé, da Paz e do Amor!
E as cores do Poente mais e mais, fazendo salientar-se
profundamente a figura do Convento no pincaro promotório.
Do mar, sopra uma brisa fresca trazendo cânticos
celestes. As batuyras, em revoadas, vão-se a procura
de seus pousos. E, eu, imitando os passaros, sigo em direção
a casa. Vou devagar pensando na minha cidade, onde em cada esquina
ha uma recordação de um passado historico.
Itanhaem - Seus filhos fizeram-na grande no passado,
merecendo por isso a imortalidade. No presente o possível,
para que nossos netos nos relembrem elogiosamente. Isso é
a promessa de um teu dedicado filho.
E de logo ouço o bramir fragoroso do mar,
quebrando de encontro a praia, fazendo côro com a brisa
soprada de longínquas plagas.